30 de agosto de 2010

Cromos

Ontem estava um cromo na esplanada basicamente a afirmar que tem uma missão e logo depois falou em profetas.
Ri-me, mas a verdade é que todos somos, conscientemente ou não, pequenos profetas da verdade (seja lá o que isso for).
Não seremos todos afinal cromos de uma caderneta?

16 de agosto de 2010

10 de agosto de 2010

Brisa estival

E quando a brisa tocou o teu rosto e eu olhei para os teus olhos fundos, grandes, muito abertos e brilhantes, castanhos esverdeados, soube que te tinha encontrado novamente, mesmo sabendo onde tinhas estado todos estes anos.
Tinhas estado quase na porta ao lado, quase tão perto, demasiado perto e ainda assim tão longe. Longe de mim e gosto de acreditar, longe de ti, de nós.
É como se o eu, o tu, o nós tivessem ficado estacionados num qualquer parque etéreo da memória longínqua do coração, da vida, porque o que é a vida sem coração e vice-versa? Caixa vazia e tosca, desprezivelmente triste para sequer ser olhada, quanto mais vivida.
És inevitavelmente a sombra do que não fui, a sombra do que não fui, do que não fomos, porque sejamos sinceros, ou melhor, eu é que tenho a obrigação de ser sincera: nós nunca chegámos a existir. No entanto existimos não existindo. Tudo na vida é muito paradoxal não é? O que não é paradoxal é simples e o simples é chato ou quase sempre muito chato. Será que ainda me tens em ti como eu te tenho em mim? Aquilo que és por mais que eu não queira ou por mais que não queiras, reside em mim, por vezes mais do que sinto, mais do que sei, mas em momentos de claridez, sei que existes e que ainda não és uma criação abstracta da minha mente por vezes (demasiadas vezes) confusa. És mesmo tu, ser não de carne e osso, mas feito de memória compacta e viva.
As palavras por dizer, que já não sei quais são, há muito que deixaram de fazer sentido, assim como nós, mas o espaço que elas ocupam continua a existir e a ser demasiadamente tocável, palpável, como se cada palavra fosse um gume e esse gume pudesse de alguma forma não metafórica ser cortado á faca.
Agora não passamos de dois corpos esquisitos, estranhos, qualquer coisa de metamorfizado daquilo que fomos (e que pena tenho de já não saber bem o que fomos...). Mas acima de tudo, acima da estranheza, do sarcasmo, da ironia, da falsa simpatia perante as cinzas que restaram ( e não, não me parece que alguma Fénix venha a renascer destas, de tão pobres e fracas que se revelaram), os teus olhos fundos, grandes, muito abertos e brilhantes, castanhos esverdeados, continuam a sussurrar-me que existimos, que sempre existiremos não existindo.

8 de agosto de 2010


Aposto que isto já vos passou pela cabeça um dia, talvez enquanto estavam sentados numa das cadeiras de um auditório da faculdade. Acertei? Pois.

6 de agosto de 2010

Baú

Quem não tem um baú no sótão? Ou no sotão da avó? E quem é que não gosta de de vez em quando dar uma olhadela ou mesmo remexer na tralha?
E se por um acaso nos apetecer tirar o pó aos objectos do baú? Devemos fazê-lo mesmo tendo presente que estes não vão ter mais nenhum lugar do que dentro deste? Perdoem-me a seguinte metáfora barata, mas valerá mais a pena tentar tirar o pó ao que está no baú, ou ao que está na nossa prateleira da sala e que está ao uso corrente? É que por vezes nem o tão apregoado swiffer (não fosse eu ingénua e agora poderia tirar dividendos desta publicidade gratuita) resolveria o problema dos malfadados ácaros que teimaram em acumular-se no baú.
Há dois tipos de baú. Aqueles em que já não nos lembramos do que está lá dentro (estes costumam ser os mais perigosos e os mais tentadores) e aqueles em que sabemos exactamente o que está lá, mas que mesmo assim teimamos em não resistir em vasculhar de vez em quando, na esperança de descobrirmos alguma coisa nova por entre tudo aquilo que já sabemos existir. Só é pena é que tal como o bíblico ditado nos diz "não há nada de novo debaixo do sol", também dentro dos baús não costuma haver nada de novo, apenas réstias de coisas que por já não termos uma lembrança clara das mesmas, se nos afiguram como inéditas.
Quando subimos as escadas até ao sótão, muitas das vezes não é com o intuito de abrir o baú, até porque temos mais que fazer, algumas vezes é ele que se atravessa no caminho (porque como sabem os baús são grandes, para já não dizer enormes e pesados). Pois é, mas a verdade é que não interessa porque é que vamos ao sótão, ou porque é que vamos abrir o baú, o que importa é que mais tarde os mais cedo todos vamos ao sotão e todos abrimos o baú.

A vida é um cinema... Paraíso

A vida é um cinema onde passam muitos filmes, filmes de vários géneros. Comédia, drama, terror, fica ao critério de cada um, ou para os que acreditam, fica nas mãos do destino, esse casulo que sufoca ou alivia conforme o estado de espírito do beneficiário.
Há que ter em conta o cinema que escolhemos para nós: podemos ser um requintado Cinema Londres, com as suas poltronas almofadas, revestidas a veludo; um Alvalade Classic, pequeno mas eclético; um Alvaláxia impessoal; um Cinema-City Campo Pequeno cheio de cangalhada ou um El Corte Inglês com filmes exclusivos.
A verdade é que em tudo a vida se assemelha a um cinema. Senão reparem. As cadeiras. Há os que gostam de se sentar demasiadamente à frente de modo a terem que levantar a cabeça para conseguirem ver alguma coisa de jeito do que se passa na tela, e há os que se sentam nas filas do meio ou nas de trás, que olham para a vida de frente e que não querem perder pitada, que não querem ter que esticar o pescoço, que gostam de se sentar confortavelmente.
O filme da vida nem sempre é perfeito, às vezes temos gente ao nosso lado a fazer barulho enquanto devora as pipocas, mas o que é certo é que o bilhete vale sempre a pena (se a alma não é pequena! Os clichés existem para serem usados certo?)