10 de agosto de 2010

Brisa estival

E quando a brisa tocou o teu rosto e eu olhei para os teus olhos fundos, grandes, muito abertos e brilhantes, castanhos esverdeados, soube que te tinha encontrado novamente, mesmo sabendo onde tinhas estado todos estes anos.
Tinhas estado quase na porta ao lado, quase tão perto, demasiado perto e ainda assim tão longe. Longe de mim e gosto de acreditar, longe de ti, de nós.
É como se o eu, o tu, o nós tivessem ficado estacionados num qualquer parque etéreo da memória longínqua do coração, da vida, porque o que é a vida sem coração e vice-versa? Caixa vazia e tosca, desprezivelmente triste para sequer ser olhada, quanto mais vivida.
És inevitavelmente a sombra do que não fui, a sombra do que não fui, do que não fomos, porque sejamos sinceros, ou melhor, eu é que tenho a obrigação de ser sincera: nós nunca chegámos a existir. No entanto existimos não existindo. Tudo na vida é muito paradoxal não é? O que não é paradoxal é simples e o simples é chato ou quase sempre muito chato. Será que ainda me tens em ti como eu te tenho em mim? Aquilo que és por mais que eu não queira ou por mais que não queiras, reside em mim, por vezes mais do que sinto, mais do que sei, mas em momentos de claridez, sei que existes e que ainda não és uma criação abstracta da minha mente por vezes (demasiadas vezes) confusa. És mesmo tu, ser não de carne e osso, mas feito de memória compacta e viva.
As palavras por dizer, que já não sei quais são, há muito que deixaram de fazer sentido, assim como nós, mas o espaço que elas ocupam continua a existir e a ser demasiadamente tocável, palpável, como se cada palavra fosse um gume e esse gume pudesse de alguma forma não metafórica ser cortado á faca.
Agora não passamos de dois corpos esquisitos, estranhos, qualquer coisa de metamorfizado daquilo que fomos (e que pena tenho de já não saber bem o que fomos...). Mas acima de tudo, acima da estranheza, do sarcasmo, da ironia, da falsa simpatia perante as cinzas que restaram ( e não, não me parece que alguma Fénix venha a renascer destas, de tão pobres e fracas que se revelaram), os teus olhos fundos, grandes, muito abertos e brilhantes, castanhos esverdeados, continuam a sussurrar-me que existimos, que sempre existiremos não existindo.

4 comentários:

Moi Meme. disse...

Mafi gosh wow :O

Mafalda disse...

Gostaste? :$

Mafalda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Moi Meme. disse...

adorei :O
muito mesmo :O