31 de outubro de 2012

Os ventos sopram quentes: quando tudo está no mesmo sítio há mais tempo do que devia


Homens, quando lá chegámos apenas se avistavam homens. O largo não é sítio para mulheres.

À janela do café cabeças despontam. Pela porta saem velhos enrugados com as suas calças turcas pretas esbranquiçadas pela poeira dos caminhos.

O ancião que tem no café o seu quartel-general, a sua sala de estar comunitária apressa-se a cumprimentar-nos, mostrando num largo sorriso os poucos dentes que ainda tem na boca.

Lenços começam a espreitar nas esquinas e depois também calças coloridas com flores dançando ao ritmo do vento quente.

Mulheres jovens mas demasiado velhas, demasiado maltratadas pelo calor dos anos.

Crianças, muitas crianças numa aldeia tão pequena. E bebés, muitos bebés.

Mãos sujas, roupa rota, cabelos demasiado beijados pelo pó, mas olhos maiores que avelãs, verdes e azuis, cabelos louros, alemães do médio oriente. E sorrisos abertos, verdadeiros, fortes e doces.

A inteligência e a vivacidade a quererem aparecer vestidas de gala a cada riso.

O tempo não é estanque, as politicas estatais mudaram, os partidos continuaram a dança democrática, a sociedade mudou, mas aqui, as casas, a estrada, o pó, tudo está no mesmo sítio há mais tempo do que devia.

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